quinta-feira, 30 de abril de 2009

Sobre o possível reajuste nos salários dos deputados Federais


Depois de terem uma redução de 20% na cota aérea, a intenção dos deputados é defender uma proposta que aciona os benefícios mensais aos salários que aumentariam de R$ 16,5 mil para 24,5 mil. Isso significa dizer que, depois de perderem os benefícios que garantiam passagens e outras regalias às famílias, os parlamentares agora querem aumentar a renda mensal esperando compensação pela decisão dos líderes.


As discussões sobre este assunto são em torno do cenário dramático do qual a população vive atualmente. A crise financeira, que tem assustado as pessoas, não barra a Constituição a estabelecer aumento para deputados estaduais e vereadores.


A outra indignação da sociedade envolve, atualmente, o número de pessoas que passam fome no mundo. Este registro aumentou em 2008 para 963 milhões, contra 832 milhões armazenados em 2007, segundo o último relatório da ONU – Organização das nações unidas - anunciado pelo diretor da FAO, Jacques Diouf em janeiro deste ano. Neste episódio, os parlamentares, que circulam com as famílias de um lado para outro em aviões de primeira classe, o retrato da pobreza é desconhecido na Câmara Federal, que nada tem feito para mudar esta realidade.


Se de um lado a passagem de avião é “merecida” aos deputados, do outro, o direito, que inclui a melhor distribuição de renda do país, é ignorado pela política brasileira.
Atualmente os gastos dos senadores são de R$ 22 milhões ao ano. E se as ações na Câmara continuarem no mesmo ritmo esse número só tende a aumentar . E na outra cena do Brasil, o número que corresponde à fome no país, automaticamente também aumentará.

domingo, 26 de abril de 2009

Sobrevivência dentro de oito metros quadrados


A história de Ricardo Tereza, o homem que, aos 20 anos, contraiu o vírus HIV e desde então, sem condições de locomoção, passa os dias dentro de uma pequena residência na comunidade Mirassol.


Por Kelley Alves



A aproximadamente 186 km de Florianópolis, um município chamado Içara comanda o distrito Balneário Rincão, que traz veranistas de toda a região na temporada do verão. A praia possui atrativos turísticos que, ao longo dos anos, levou o nome do Rincão a todo o estado. Em 2008 e começo de 2009, shows nacionais da cantora Ivete Sangalo e do cantor Daniel reuniram aproximadamente 60 mil pessoas, destacando ainda mais o local.


Contudo, uma pequena comunidade (pequena em relação à importância) não pôde estar nesses shows. A maioria nem soube da existência desses eventos.


O bairro Mirassol, apesar de ser um dos locais do balneário, vive a margem de todo lazer e atrativos turísticos que a cidade possui. É que a pobreza e a situação precária em que aquelas pessoas vivem são suficientes para mostrar que cada uma tem uma árdua tarefa dia-a-dia: lutar pela sobrevivência. Shows, laser e diversão não existem quando a fome e a saúde estão em primeiro lugar na vida do ser humano.


Ao entrar na vila, qualquer cidadão comum chegaria à conclusão que aquelas pessoas foram esquecidas pelo poder público.


Ricardo Tereza dos Santos tem 41 anos e é um dos integrantes desta comunidade. Se a maioria dos moradores deste lugar vive presa a um espaço pobre e sem estrutura, Ricardo não tem nem a oportunidade de conhecer o bairro em que mora.


Fui até a presidente da associação de moradores que me encaminhou à “casa” do cidadão. Caminhando pela pequena comunidade pude perceber o quanto as casas são próximas umas das outras, de maneira apertada e agoniante. Isso para que o espaço seja suficiente para abrigar todas aquelas famílias. As moradias são improvisadas com madeiras que servem de “tapa buraco”. Como se trata de praia, uma parte do local é caracterizada pelas dunas que finalizam a vila. Algumas habitações ainda são construídas perigosamente sobre essas areias, o que é proibido em qualquer município (para isso serve o plano diretor de toda cidade).

Ambientalistas de todo o mundo alertam sobre o perigo, para o meio ambiente, de construções em cima das dunas. Os sumidouros das casas acabam comprometendo o lençol freático responsável pelo abastecimento de água para a população.

De repente, me deparei com uma “meia água” de mais ou menos 8 m². Ela estava absolutamente fechada. Parecia não ter ninguém, mas o morador que foi encarregado de me levar ao local garantiu: “é aqui que o Ricardo mora!”. Ao lado, havia um vizinho que, residente de uma casa um pouco maior, dava água ao cachorro que latia desesperadamente.


- O Ricardo Tereza está em casa?


- Sim! Ele sempre ‘ta’ em casa, moça! Mas se o irmão que cuida dele não “tiver” ali, ele não pode abrir a porta. Mas hoje cedo ele ‘tava’ aí.


Finalizando a frase, ele largou a mangueira se direcionando para o muro que divide as duas casas. Com uma voz alta e firme, ele gritou: “Charles!”. Não sendo respondido, o vizinho tentou por três vezes (parecia não desistir enquanto não me ajudasse). De repente, uma voz:


- Que foi?


- Tem uma moça aqui querendo falar com você.


Depois de mais ou menos um minuto e meio, o cidadão chamado Charles abriu a pequena porta da meia-água. Assustei-me ao notar o zíper e o botão da calça jeans, que ele vestia apressadamente ao caminhar até o portão, estavam quase impossíveis de ser fechados. Descendo uma escadinha de madeira improvisada na porta, ele parou e finalmente conseguiu me atender no portão.


Apresentei-me falando do meu interesse em conhecer o irmão dele:

- Agora ele “ta” dormindo, moça.


Com um pouco de insistência, consegui entrar no local. Antes ele alertou:


- Não repara “na” minha casa!


Charles é um mulato de 40 anos com olhos pretos e arregalados, boca fina e nariz achatado. Ele estava sem camisa e com uma calça jeans desbotada e rasgada nas barras. Andava descalço e eram notáveis as feridas que, praticamente, cobriam os seus pés. Percebendo que notei as feridas ele disparou:


- Aqui no bairro tem muito bicho-do-pé, moça. A prefeitura até veio aqui “botar” remédio, mas não mudou muito!


De acordo com o Podólogo Orlando Madella Jr. o bicho-do-pé é uma pulga feminina de nome científico Tunga penetrans, que se aloja na pele para se alimentar do sangue e pôr ovos. É uma infecção caracterizada por inchaços dolorosos localizados principalmente ao redor de onde o inseto penetrou, sob as unhas do pé nas partes mais moles ou entre os dedos do pé. Pode-se pegar o bicho-do-pé em qualquer local do corpo. As larvas são de vida livre, sendo encontradas em habitações de chão de terra, em solos arenosos e praias, mas sempre em locais sombreados. O adulto (pulga) possui coloração marrom avermelhada e mede aproximadamente um mm de comprimento, porém, uma fêmea grávida pode chegar a medir o tamanho de uma ervilha. É a fêmea adulta e fertilizada quem possui a capacidade de perfurar a pele do homem, porco e outros mamíferos, com suas partes bucais. Ela aloja-se dentro do corpo do hospedeiro até que o último segmento abdominal esteja paralelo com a superfície da pele. Alimenta-se de seu sangue e expele os ovos maduros pelo ovipositor, ficando estes na ponta de seu abdômen. Uma fêmea pode produzir de 150 a 200 ovos durante um período de 7 a 10 dias.


Voltando ao principal assunto, a casa de Ricardo é dividida em quatro cômodos. O telhado de madeira é mascarado com uma espécie de tecido que serve para impedir a entrada dos raios solares. A mesa e a pia da cozinha, que recepcionam a casa, estavam tomadas de pratos, copos e talheres sujos. Ao entrar na residência fui obrigada a trancar a respiração, pois de dentro da casa vinha um cheiro insuportável. Cocei o nariz e disfarcei para que Charles não percebesse o meu mal estar. Ao ver grande quantidade de insetos que andavam sobre a louça que enchia a pia, a única coisa que eu desejava naquele momento era que Charles não me oferecesse um cafezinho ou algo parecido.


De repente, olhando para frente, deparei-me com um homem estirado numa cama logo à frente, no canto superior da meia água. Era ele: Ricardo!


Imaginei encontrá-lo em uma cadeira de rodas. Porém, as condições precárias só o permitem se conformar com a cama de madeira que sustenta um colchão fino e sujo, ao qual Ricardo passa e passou grande parte de sua vida.


Ao tentar conversar com ele, tive dificuldades em ouvi-lo. Isso porque ele não consegue se expressar. O irmão, Charles, quase não permitia que ele falasse, respondendo por ele a todas as perguntas que eu fazia.


Ricardo, assim como Charles, é um mulato de mais ou menos 1,60m de altura. Ele tem olhos grandes e pretos que transmitem uma expressão de medo. As barbas não-feitas e as unhas compridas sinalizavam a incapacidade de cuidar da higiene pessoal. Mesmo já sabendo do caso, perguntei o que o fazia estar naquela cama.


- Ele teve derrame, respondeu o irmão.


De acordo com um dos artigos publicado no site da Lincx – Serviços de Saúde, com sede em São Paulo, a tuberculose é uma doença que pode afetar virtualmente qualquer um dos sistemas orgânicos e pode ser devastadora se não tratada adequadamente. O recente aumento na incidência de tuberculose na população, tanto entre os indivíduos imunodeprimidos quanto entre os imunocompetentes, fez com que esta doença passasse, novamente, a ser uma das prioridades mundiais em saúde. A tuberculose pode exibir uma grande variedade de achados clínicos e radiológicos e tem propensão a se disseminar a partir de um foco primário. [...] Até meados da década de 80 havia um declínio marcante na prevalência de tuberculose. Porém, a partir do início da pandemia de AIDS e com o aparecimento de formas resistentes do Mycobacterium tuberculoses houve um ressurgimento da doença. Além dos pacientes imunodeprimidos, havia outros grupos de maior risco para a doença: moradores de rua, alcoólatras, prisioneiros, imigrantes e população geral vivendo em más condições sanitárias, idosos, pacientes internados em asilos, Ricardo era alcoólatra e usuário de drogas antes de ser portador da doença.
Porém, eu sabia que não se tratava somente de um derrame. O medo do preconceito o fez mentir.


Relevei e questionei os detalhes da doença. Ricardo não movia a mão direita e a perna. Há vinte anos, ele teve tuberculose, o que gerou o derrame. Esse problema se deu pouco depois de um impasse ainda maior. Uma mulher, que também estava no local assistindo a toda cena, questionou:


- Ele não tem Aids?


O irmão rapidamente me olhou assustado, vagarosamente baixou a cabeça e, com um ar de tristeza e desmotivação, respondeu positivamente.


Depois de um longo papo com Charles (ele nunca deixava o irmão responder), pude perceber que o motivo que o fez me deixar entrar e conversar com a família era a esperança de algum dinheiro ao fim da conversa.


Pude perceber ainda mais as reais intenções de Charles quando conversei com a coordenadora do programa DST/HIV/Aids, a assistente social Samira Abinur. O programa é desenvolvido em Içara e, segundo a coordenadora, atualmente atende a 232 pessoas entre portadores de Aids, HIV (nesse caso a doença ainda não se desenvolveu) e doenças sexualmente transmissíveis.


Em julho de 2008 a ONU divulgou dados apresentando o Relatório Global sobre Epidemia de Aids 2008, realizado pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre DST/Aids (Unaids). O levantamento é baseado nos relatórios enviados por 147 países às Nações Unidas e na revisão global de estimativas a partir dos novos dados disponíveis em cada país. Os números computados revelam que houve uma queda no número de infectados, porém o seu nível ainda é inaceitável: são 33 milhões de pessoas no mundo com a doença. A África Subsaariana é a região mais atingida, com 22 milhões de pessoas com Aids. O país com o maior índice de contágio na América Latina é o Brasil, com cerca de 730 mil pessoas infectadas. A cada ano, 30 mil pessoas contraem HIV no país. O relatório constata que o número de pessoas com o HIV está aumentando devagar, por causa das terapias que prolongam a vida dos portadores, porém a infecção está longe de ser eliminada.


Conversei com Samira pelo telefone, a voz doce e despojada demonstrou interesse e gosto pela profissão. Contrariando as afirmações de Charles a moça me contou que Ricardo é sim atendido pelo programa e que, inclusive, já esteve participando de algumas terapias que são oferecidas para o grupo. Ela me contou que antes de ser portador do vírus Ricardo era usuário de drogas a consumia bebidas alcoólicas frequentemente. Segundo Samira, em casos como este, a recuperação é mais difícil já que o paciente não tem como principal objetivo a cura, mas a vontade de voltar aos vícios. Perguntei a ela sobre a possibilidade do município dispor uma clínica com todos os cuidados necessários a sua doença e, para cobrir os gastos, depositar a sua aposentadoria na conta dessa clínica, como Charles havia sugerido entre os intervalos das minhas tentativas de conversa com Ricardo.


- Hoje o município não dispõe de uma clínica especificamente para casos como o de Ricardo. O que dá para fazer, inclusive nós até já fizemos, seria interná-lo em um asilo para lá ele receber os cuidados. Porém Ricardo é muito novo, dificilmente seria aceito este recurso, explicou a coordenadora.


Depois disso cogitei a possibilidade do município doar uma cadeira de rodas a Ricardo (eu queria de qualquer maneira que esta história tivesse um final feliz).


- Essa seria uma questão a ser tratada com a secretaria de saúde. Atualmente cada um dos pacientes que atendemos no programa gasta, em média, R$ 1.500 a 3.000 reais. O tratamento é caro porque os remédios em si são caros e os exames também tem um custo alto.


O programa DST/HIZ/Aids, alem de distribuir remédios aos portadores sem condições financeiras, disponibiliza tratamento psicológico, terapia em grupo, tratamento clínico, toda parte social, alem de dispensar cestas básicas. Samira contou que Ricardo não tem interesse em usufruir dos recursos disponibilizados. Segundo ela ele até começa, mas sempre acaba “desistindo no meio do caminho”. Os custos para o programa são disponibilizados pelo governo do Estado.


De volta ao episódio do dia 4 de abril, data em que visitei o bairro Mirassol. Ricardo me olhava assustado, tudo parecia estranho e a minha presença parecia o incomodar. Ao mesmo tempo, seu semblante triste mostrava que ele queria dizer algo, mas não tinha coragem.
De volta ao cenário no bairro Mirassol, Charles começou a falar que a vida do soropositivo é dentro daquela pequena casa.


- Eu não tenho forças para levá-lo para andar nas ruas. Não temos condições de comprar uma cadeira de rodas e por isso a vida dele é aqui dentro.


Perguntei a Ricardo qual era o sonho dele. Mesmo com dificuldade em falar e sendo interrompido pelo irmão, as palavras do enfermo foram claras e objetivas:


- Eu queria uma cadeira de rodas.


Ricardo Tereza, aos 41 anos, lembra com tristeza de sua juventude. Ao se relacionar com uma mulher, aos 20 anos, ele contraiu o vírus. Sem entender muito bem do que se tratava, ele seguiu a vida normalmente até se encontrar no fundo de uma cama.


É bom abrir um parêntese para lembrar que este caso é semelhante ao de muitos brasileiros que não possuem condições financeiras para uma boa educação. Eles tendem a ter pouco acesso às informações sobre como se proteger. Isso porque a maioria não sabe ler e o que vê pelas ruas não é compreensível ao seu vocabulário. Também pode ocorrer o caso de pessoas pobres, como Ricardo, tenderem a viver na periferia das cidades ou em áreas rurais remotas, que não recebem muitas visitas de pessoas com informações para compartilhar.


Após o vírus se alastrar, Ricardo teve problemas respiratórios, que paralisaram seus membros direitos, braço e perna, tornando-o impossibilitado de locomoção. A mãe de Ricardo e Charles tem problemas de coração. Charles contou que ela os visita duas vezes por mês, pois mora com a outra família, em Porto Alegre.


De acordo com o Censo Demográfico de 2000 (IBGE), quando a questão da deficiência foi investigada pela última vez, o Brasil tinha cerca de 1,5 milhões de deficientes físicos, destes mais de 930 mil usuários de cadeiras de rodas. Muitos têm uma vida ativa, trabalham e estudam e, por isso, precisam se movimentar pelas cidades. Eles vivem em busca dos seus direitos, exigindo que cada cidade promova o bem-estar que cada um necessita.


Ricardo não tem cadeira de rodas, nem conhece esses direitos. Tudo que deseja é ver a luz do dia e ter acesso à pequena vila em que reside.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Matos também são "usuários" das paradas de ônibus

Esperar o ônibus em algumas comunidades de Içara já se tornou uma tarefa difícil. Nos bairros localizados longe do centro da cidade o estado de conservação das paradas de ônibus é precário já que o excesso de mato, praticamente cobre o local de espera dos usuários.

Falta de segurança, insetos e bichos provindos do matagal são as principais consequências da falta de manutenção desses pontos.

De acordo com o secretário de obras, José Eloir do Nascimento, uma equipe de funcionários braçais é responsável pela conservação das paradas. Contudo, o grupo está reduzido a seis funcionários, que atualmente estão trabalhando na limpeza das unidades escolares e dos postos de saúde.

Segundo o secretário os serviços nas paradas devem ser realizados dentro de 15 dias. "A lei que permitia as contratações venceu e tivemos que despedir alguns trabalhadores, ficando com o quadro reduzido. No processo seletivo não apareceu muitos candidatos o que dificultou ainda mais o problema", explicou. "Agora provavelmente faremos uma licitação para tercei-rizar estes serviços", completou Nascimento.