segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Fora do sério!

E no "cair da tarde", quente e abafada que predominou essa segunda feira, estava eu e o meu namorado, cumprindo a rotina de todos os dias que seguem após o almoço.
Saindo do restaurante, sentamos na pracinha para esperar o horário de retornarmos ao trabalho.
A "pracinha" estava insuportável! O calor era tanto que decidimos ir em busca de algum lugar que nos proporcionasse bem estar.
Propus que fôssemos ao shopping (Na verdade não se trata de um Shopping, mas, deixemos assim). Direcionamos-nos para lá, e sentamos num banquinho interno do dito "shopping".
Estávamos sentados de mãos dadas e fazendo algumas brincadeiras de beliscões, as quais nos costumamos a fazer. De repente notei um velho senhor, que nos observava. Não dei muita importância! Ele deveria estar relembrando sua juventude! Levantamos para comprar uma água. Aproveitamos e compramos chocolate também! Mudamos de banquinho! Olhei para o lado e lá estava o senhor, agora nos espiando. Continuei sem dar importância. Sentamos na frente de uma joalheria. Eu tentava escutar o assunto que as funcionárias daquela loja conversavam. De repente (eu juro), sem mais nem menos, aparece aquele "Horrível" senhor na nossa frente. Agora a expressão dele era séria e brava. Cheguei a me assustar! Eu nem imaginava o que vinha pela frente.
- Acabou o tempo. Aqui é lugar de respeito, tem pessoas de família e homens casados. Não é lugar para ficar de agarramento...
Não dava para acreditar no que estava acontecendo. Pensei que o cara podia ser um "doente mental", mas vi que se tratava do guarda daquele shopping. Ficamos boquiabertos. Eu até tentei falar alguma coisa na hora, mas nada saia. O velho resmungou cerca de 3 minutos e saiu. Ficamos um tempo, parados, um olhando para o outro sem acreditar no episódio. Fomos insultados, sem estar fazendo o que o cidadão acusava. Ele saiu!
Esse é o pior momento. O sangue foi subindo e as palavras daquele senhor não me saiam da cabeça. De repente, os pensamentos egoístas começaram a predominar.
-Quem ele pensa que eu sou para falar daquele jeito comigo? Ah! Ele não deve me conhecer e eu não vou deixar isso barato!
Pensamentos absurdos, que jamais deviam prevalecer, num gigante que toma conta de todo ser humano: O ego.
Pior não foi isso. De repente usei a minha profissão para me defender do caso. Isso foi imundo!
-Trabalho num jornal e posso fazer uma matéria contra ele! Eu tenho esse poder, as pessoas vão se virar contra ele em apenas algumas palavrinhas argumentadas. Se eu quiser posso deixar ele desempregado!
Que vergonha! Deixei de ser representante da sociedade e passei a ser minha própria representante. Será que é para isso que venho estudando todos esses anos? Para usar a minha profissão ao meu favor?
Não, não é para isso! Mas na hora eu não fiz essa avaliação.
Puxei meu namorado pela mão e com toda aquela fúria, fui a busca do "velho senhor".
Depois que o encontrei, comecei a despejar tudo que estava engasgado. Não me lembro exatamente tudo o que falei, na hora saiu erros de português grotescos!
- O senhor pensou que estava falando com quem? Pensa que somos esses moleques que fogem dos colégios para vir ficar de agarramento? Estávamos na frente de uma loja, tinham pessoas lá dentro que nunca reclamaram do nosso relacionamento. Afinal, o que é agarramento no seu conceito? Ficar de mãos dadas é agarramento? (puxei meu namorado e peguei em uma das mãos dele). Isso aqui pro senhor é agarramento?
Até aqui tudo bem, eu estava na minha razão... De repente, não me contive:
-Olha meu senhor, eu trabalho num jornal e posso perfeitamente fazer uma matéria contra você! Você foi injusto e nos envergonhou na frente de várias pessoas, isso é motivo suficiente de pauta.
Que coisa absurda! Até agora essas palavras não saíram da minha cabeça e eu não consigo acreditar que usei tal argumento!
Para todos os efeitos, eu falei que o respeitava, devido a sua idade avançada, mas que também exigia esse respeito. Ele por sua vez, claro que em todos os momentos contra-argumentou. A começar que eu podia fazer quantas matérias eu quisesse (coitado! Não tem mínima noção de nada). O Edemur (meu namorado), só me olhava. Levou algum tempo para realmente acreditar que usei todas aquelas palavras. Mesmo assim estava ali, do meu lado.
Por fim, ainda (na maior cara-de-pau) me despedi do cidadão:
-Olha to vendo que o Senhor não vai nos pedir desculpas mesmo! Uma boa tarde e desculpa qualquer coisa!

Penso que depois disso me senti um pouco melhor. Quando cheguei ao jornal, comecei a me dar conta de tudo o que havia falado.
Arrependimento sim! Não por ter voltado lá, mas por ter usado a minha faculdade e a minha profissão para "pisar" num cidadão comum, que, aliás, é igual a mim.
Aprendi que muitas vezes é preciso controlar terrível ego. Ao contrário disso, estaremos fugindo da nossa verdadeira função, que é a de apenas sermos mediadores da sociedade, somente da sociedade!

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