domingo, 10 de maio de 2009

Um exemplo de mãe

A surpreendente história da mãe de sete filhos, sendo quatro com deficiência mental, que superou todos os limites da falta de condições financeiras e hoje, aos 81 anos, vê que tudo valeu a pena.

por Kelley Alves

Ela mora em uma comunidade pequena e com pouca estrutura. Tem sete filhos, sendo quatro especiais, e não tem uma das vistas.


Por todos esses motivos, a ex-colhedora de carvão, Filomena Manoel Sebastião, teria motivos suficientes para desanimar no meio da caminhada. Contudo, ao chegar à pequena residência, com aproximadamente 60 m² e que abriga mais de dez pessoas, a simpatia e a alegria de dona Filomena contagia toda a comunidade de Barra Velha.


Apesar de ter quatro filhos com deficiência mental, Joanidi, hoje com 60 anos, Jovilina 58, Antonio 55 e Laudelino 51, a satisfação e o prazer que a aposentada tem em cuidar de cada um são motivos para todo o bairro ter a certeza de que dona Filomena é o exemplo da figura materna que deveria ser seguido por todas as mães Brasil a fora. “Ela nunca deixa a peteca cair, está sempre cuidando dos filhos com todo o amor e carinho. E mesmo diante das dificuldades ela está sempre de bem com a vida”, contou a presidente do clube da terceira idade da Barra Velha, Maria do Carmo Prudêncio.


Com a voz rouca e cansada, a dona de casa em nenhum momento demonstrou tristeza. Pelo contrário, é com alegria e satisfação que ela conta a trajetória da família. “Todos os meus filhos deficientes vieram ao mundo através de uma parteira. Depois que eles já estavam maiores foi que eu descobri o problema que tinham. Mas isso não foi motivo para desânimo, hoje eu os vejo como as minhas eternas crianças e é assim que todos aqui do bairro vêem cada um”, contou dona Filomena, sempre de olho nas “crianças” para ver se estava tudo certo.


“Eu tenho orgulho dos meus filhos e nunca pensei em desistir deles. Penso que muitas mães são tristes porque tem os filhos nas drogas e largados no mundo. Os meus, pelo menos, estão aqui, debaixo dos meus olhos”, completou a mãe orgulhosa. No momento em que falava estas palavras, dona Filomena, por três vezes, desviou o olhar para trocar palavras com o neto, filho de uma das filhas, que é adotiva, e ajustar as mangas da camiseta de uma das filhas especial que passou em direção ao quintal da casa.


Ela perdeu uma das visões quando trabalhava como colhedora numa mina de carvão. Na época a dona de casa vivia condições precárias. Por este motivo não reivindicou os direitos e seguiu trabalhando. O tempo passou até que dona Filomena perdeu de vez a vista do olho direito ficando impossibilitada de trabalhar. Nessa época ela conheceu um homem, que foi quem criou as crianças e ajudou a pagar todas as contas da casa. “Ele cuidou de todos como se fosse o próprio filho deles”, conta emocionada. Ela era viúva quando encontrou o segundo marido. Para a tristeza de dona Filomena, o pai adotivo, que segundo ela, fez das crianças motivo de alegria, também faleceu, já que tinha problemas no coração.


O cenário triste não fez a viúva desanimar. Cada problema era motivo ainda maior para ela está mais próxima dos filhos. Aconteceu que sua filha mais velha, que não é especial, também perdeu o marido e teve que voltar para a casa da mãe. “Hoje ela é o meu braço direito aqui em casa, ajuda a cuidar das crianças e me auxilia nos serviços da casa”, contou. Cada um dos filhos da dona de casa tem uma história. E todas muito bem vividas pela “maezona”.


Mesmo já tendo seis filhos o coração de mãe foi grande o suficiente para acolher mais uma criança desamparada. Certo dia uma maça grávida apareceu na casa da família afirmando que abortaria a criança por não ter condições de criá-la. Dona Filomena e o filho mais velho, Astor Sebastião, adotaram a criança que atualmente é casada e deu três netos à família. “Meus netos vivem alegrando esta casa. Nossa família é unida apesar de todas as dificuldades financeiras que já enfrentamos”, contou orgulhosa.


A alegria da casa, segundo a “super-mãe”, é o filho mais velho. “O mais doente dessa casa é aquele ali”, contou apontando para o filho mais velho que é perfeitamente saudável. A explicação só veio depois de uma conversa com Austor, que mostrou que humor é o que não falta para levar alegria à família. “Minha mãe vai direto para o céu. Com tanta bondade é difícil acreditar que o ‘inferno’, de fato, existe”, disse o filho mais velho, orgulhoso.


E mesmo morando numa casinha num bairro pobre e quase não conhecido no município, ao questionar sobre o desejo da família, dona Filomena é direta: “Quero saúde para continuar cuidando dos meus filhos”.



Feliz dia das mães para aquelas que são educadoras exigentes e zelosas. Para todas que, naturalmente, herdaram de Deus o dom mais lindo: o de gerar a vida!

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